quarta-feira, 9 de março de 2011

Deslize

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0903201106.htm

Acabo de ler este texto do Professor Delfim, confesso ter ficado decepcionado com um pequeno deslize do ex-ministro. Os textos dele sempre aliam bom humor, erudição e consistência lógica. No texto dessa semana ele descuidou deste último aspecto. No inicio do texto ele crítica a miopia dos observadores de fenômenos sociais, sobretudo dos economistas, destacando três "miopias": a neoclássica, que se ampara na crença do equilíbrio; a keynesiana, cuja miopia se relaciona com a determinação do produto pela demanda, pela crença "em aspcetos psicológicos duvidosos" e pela ênfase na incerteza; por fim, a miopia do marxismo e do materialismo histórico como principal fonte de explicação para a configuração social. Os economistas têm outras miopias, porém o professor não as aborda devido a escassez de caracteres da Folha...
No decorrer do texto o professor decide explicar o processo de criação das teorias, dando ênfase ao contexto histórico, social e econômico. Perfeito, mas eis que... Somos surpreendidos pelo principio geral que reza toda abordagem teórica: o autor propõe um entendimento, que traz a visão do mundo do pesquisador, mas é feita para justificar o interesse "da classe dominante", ou da classe com a qual o observador se afina.
Bom, há uma inconsistência lógica, pois se a dinâmica de toda pesquisa é essa, então toda dinâmica do progresso teórico é regida por uma luta de classes, ou seja, essa mola mestra explicaria o funcionamento da história e dos embates em ciências sociais. Mas... No começo do texto ele não disse que o materialismo histórico é uma miopia? 
Sim, a explicação do erudito professor para o processo de criação de teorias sociais é míope. Essa abordagem desconsidera aspectos psicológicos e individuais da pesquisa científica, nela o pesquisador é escravo de sua ideologia. Posso estar enganado, mas creio que essa é uma afirmação muito forte e que pode engessar a avaliação sobre o processo de conhecimento... Que tal pensarmos a respeito?
PS: Textos de apoio para essa discussão: Thomas Kuhn, "As estruturas das revoluções científicas" e "O caminho desde a estrutura"; Edgar Morin, "introdução ao pensamento complexo" e o método, em especial o volume 3.

Nenhum comentário:

Postar um comentário